O mito do Deus irado

Texto bíblico básico: Sl 86:15; Mc 1:41

Um Deus bipolar

Os críticos do cristianismo alegam que a Bíblia foi produzida por uma sociedade patriarcal, na qual está presente a figura da mãe terna, compassiva e submissa em contraste com a figura do pai exigente, inflexível e dominador. Essa sociedade teria criado o deus apresentado no Antigo Testamento (AT). Este seria diferente do deus (Jesus) criado pelo Novo Testamento (NT), pois a ideia de Deus teria evoluído juntamento com a humanidade. A sociedade greco-romana teria criado um deus diferente do deus hebreu.

Isso leva ao desenvolvimento uma visão distorcida do Deus verdadeiramente revelado pelas Escrituras, induzindo as pessoas a enxergarem uma dicotomia que não existe na Bíblia. Além disso, leva tenta nos fazer crer que o homem criou Deus e a Bíblia deu Deus à humanidade, quando é justamente o contrário: Deus criou o homem e Deus nos deu a Bíblia, a Sua Palavra.

A falta de conhecimento bíblico tem levado as pessoas a criarem uma imagem distorcida do Deus Pai, revelado no Antigo Testamento, como sendo um ser irado e pronto para julgar e executar a sentença. Enquanto Jesus, o Deus revelado no Novo Testamento, ao contrario, seria uma pessoa bondosa e tolerante.

No entanto, Jesus, o Deus feito homem, não poderia possuir um caráter diferente do caráter da pessoa a quem Ele veio revelar.

Julgamento e justiça

É necessário enfatizar, porem, que a doutrina do amor de Deus não anula, nem considera menos importante, a doutrina da justiça de Deus, como ensinam algumas seitas. Assim, vemos Deus julgando pessoas no AT, mas também encontraremos Jesus condenando veementemente outras no NT, não apenas absolvendo e perdoando pecadores.

O Pai é compassivo

“Porém tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e piedoso, sofredor, e grande em benignidade e em verdade” (Sl. 86:15).

No AT, os profetas em geral, e particularmente Oseias, revelam o Pai se esforçando para manter um relacionamento que não está dando certo porque uma das partes sofre de infidelidade crônica: o seu povo, a nação de Israel.

O filho é compassivo

“E aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo” (Mc 1:40-41).

Há pelo menos cinco ou seis passagens nos evangelhos afirmando que Jesus é movido de íntima compaixão ou dizendo que condoeu-se de alguém. Jesus chorou por causa de Jerusalém e pela morte de Seu amigo Lázaro.

“E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor. Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros. Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara” (Mt 9:35-38).

A mulher do fluxo de sangue esperava, no mínimo, uma severa repreensão. Foi necessário muita coragem para admitir que havia tocado em Jesus, o que era proibido pelos ritos judaicos. Recebeu perdão, salvação, cura e ânimo para seguir adiante (Lc 8:40-48).

A mulher surpreendida em adultério esperava um julgamento sumário, a condenação e a morte por apedrejamento. Teve em Jesus um advogado de defesa competente. Recebeu compreensão e uma chance de recomeçar (Jo 8:3-11).

Deus é paciente e longânimo

“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe 3:9).

“Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:13-14).

Este é o segredo. Deus não finge que o pecado não existe ou que é algo irrelevante. Nem minimiza a seriedade de suas consequências. Ele quer que o homem se arrependa e recomece, deixando o pecado e os erro do passado onde eles devem ficar, no passado.

Jesus nos compreende

“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4:15).

Relacionamento ameaçado

Deus continua insistindo nesse relacionamento, que não tem dado muito certo porque uma das partes é cronicamente infiel: eu e você. Embora Deus permaneça fiel, pois não pode contrariar sua própria natureza (2 Tm 2:13).

Um Convite animador

Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hb 4:16).